O Alongamento antes do treino é traz benefícios? É comum vermos praticantes dos mais variados esportes fazendo alongamentos antes da prática de atividade física. Veja o que a ciência tem a nos dizer sobre o assunto.
Riscos de Lesão
Estudos de Revisão e Meta Análise (1-6) concluem que o alongamento estático (mantendo-se em uma posição por um determinado tempo) antes do exercício não parece reduzir significativamente o risco de lesão, Artigos de Revisões Sistemáticas (7, 8) e um estudo com 2377 adultos ativos (9), encontraram evidências que o alongamento estático não reduz as taxas gerais de lesões (ósseas e vasculares, como dores nas canelas e síndrome compartimental crônica, lesões estas, que não poderiam ser evitadas por um programa de alongamento). No entanto, descobriram evidências preliminares de que o alongamento estático pode reduzir as lesões musculotendíneas e entorse ligamentar. Tendo em vista os controversos achados sobre a utilização ou não do alongamento antes do treino, não existem evidências suficientes para endossar ou interromper o alongamento antes do exercício para evitar lesões em praticantes de atividades físicas (2).
Desempenho Físico
Se não existe consenso sobre a eficácia do alongamento antes do treino para prevenir lesões, será que ele pode melhorar o desempenho físico?
Alguns estudos trazem fortes evidências de que o alongamento estático antes do exercício pode reduzir o desempenho muscular, atenuando a força máxima, potência, velocidade e explosão (5, 10-14), entretanto alongamentos com duração menor que 30 s não possuem efeitos negativos na performance muscular (11, 12). Não foram encontrados resultados favoráveis nem desfavoráveis na economia da caminhada ou corrida, apesar da melhoria na amplitude de movimento.
E agora? Fazer ou não fazer alongamento antes do treino?
Muitos destes estudos compararam ou combinaram o alongamento estático com o aquecimento e o alongamento dinâmico (alongar utilizando movimentos específicos), entre outros métodos como a pliometria (exercício para melhora de potência muscular) e a propriocepção (exercícios de equilíbrio e consciência corporal) como meio de evitar lesões e melhoria da performance, todos estes com fortes evidências de melhorias de desempenho e redução de incidência de algumas lesões (2, 5, 7, 8, 13, 14). Tendo em vista todos estes estudos conflituosos, é recomendável priorizar atividades com movimentos dinâmicos, um bom aquecimento e, se for fazer alongamento estático, não passar de 30 s de duração por grupo muscular, sugere-se que, antes de atividades de força, alta velocidade, explosivas ou reativas, em que se necessite de máximo desempenho, não se realize alongamento estático.
Devemos lembrar também que o alongamento estático realizado em outros momentos, separados da sessão de treinamento ou até no período de resfriamento pós-exercício é recomendado. O alongamento deve ser incluso em suas atividades de condicionamento físico e bem-estar para a saúde e benefícios funcionais associados ao aumento da amplitude de movimento e complacência musculotendínea, reduzindo riscos de lesão e gerando melhorias de desempenho físico a longo prazo.
Fontes
1. Herbert, R. D; Gabriel, M. (2002). Effects of stretching before and after exercising on muscle soreness and risk of injury: systematic review. Bmj, 325(7362), 468–468. https://doi.org/10.1136/bmj.325.7362.468. Disponível em: https://www.bmj.com/content/325/7362/468.full.print
2. Thacker, S. B., Gilchrist, J., Stroup, D. F., & Kimsey, C. D. (2004). The Impact of Stretching on Sports Injury Risk: A Systematic Review of the Literature. Medicine and Science in Sports and Exercise, 36(3), 371–378. https://doi.org/10.1249/01.MSS.0000117134.83018.F7. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download…
3. Andersen, J. C. (2005). Stretching before and after Exercise: Effect on muscle soreness and injury risk. Journal of Athletic Training, 40(3), 218–220. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1250267/
4. Shrier, I. Does stretching help prevent injuries? In: Evidence-Based Sports Medicine. MacAuley, D and Best, T, eds. (2nd ed.). Malden, MA: Blackwell Publishing, 2007. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/…/pdf/10.…/9780470988732.ch3
5. Paulo Henrique Foppa de Almeida, Danielle Barandalize, D. I. R. R., & Daniela Gallon, Ana Carolina Brandt de Macedo, A. R. S. G. (2009). Muscle stretching: implications at the performance and injury prevention. ALONGAMENTO MUSCULAR: SUAS IMPLICAÇÕES NA PERFORMANCE E NA PREVENÇÃO DE LESÕES | Fisioter. Mov., 22(3), 335–343. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/…/1577
6. Lauersen, J. B., Bertelsen, D. M., & Andersen, L. B. (2014). The effectiveness of exercise interventions to prevent sports injuries: A systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. British Journal of Sports Medicine, 48(11), 871–877. https://doi.org/10.1136/bjsports-2013-092538. Disponível em: http://bjsm.bmj.com/content/48/11/871.short
7. Taylor, P., Small, K., Mc, L., & Matthews, M. (2008). Access details : Access Details : [ subscription number 778576781 ] Research in Sports Medicine A Systematic Review into the Efficacy of Static Stretching as Part of a Warm-Up for the Prevention of Exercise-Related Injury A SYSTEMATIC REVIEW INTO THE EFFI, (778576781), 213–231. https://doi.org/10.1080/15438620802310784. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18785063
8. Behm, D. G., Blazevich, A. J., Kay, A. D., & McHugh, M. (2016). Acute effects of muscle stretching on physical performance, range of motion, and injury incidence in healthy active individuals: a systematic review. Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism, 41(1), 1–11. https://doi.org/10.1139/apnm-2015-0235. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26642915
9. Jamtvedt, G., Herbert, R. D., Flottorp, S., Odgaard-Jensen, J., Håvelsrud, K., Barratt, A., … Oxman, A. D. (2010). A pragmatic randomised trial of stretching before and after physical activity to prevent injury and soreness. British Journal of Sports Medicine, 44(14), 1002–1009. https://doi.org/10.1136/bjsm.2009.062232. Disponível em: http://bjsm.bmj.com/…/ear…/2009/06/11/bjsm.2009.062232.short
10. Behm, D. G., & Chaouachi, A. (2011). A review of the acute effects of static and dynamic stretching on performance. European Journal of Applied Physiology, 111(11), 2633–2651. https://doi.org/10.1007/s00421-011-1879-2. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21373870
11. Simic, L., Sarabon, N., & Markovic, G. (2013). Does pre-exercise static stretching inhibit maximal muscular performance? A meta-analytical review. Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports, 23(2), 131–148. https://doi.org/10.1111/j.1600-0838.2012.01444.x. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22316148
12. Kay, A. D., & Blazevich, A. J. (2012). Effect of acute static stretch on maximal muscle performance: A systematic review. Medicine and Science in Sports and Exercise, 44(1), 154–164. https://doi.org/10.1249/MSS.0b013e318225cb27. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21659901
13. Mascarin, Naryana & Vancini, Rodrigo & Lira, Claudio & Andrade, Marilia. (2014). Stretch-Induced Reductions in Throwing Performance Are Attenuated by Warm-up Before Exercise. Journal of strength and conditioning research / National Strength & Conditioning Association. 29. 10.1519/JSC.0000000000000752. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25426509
14. Walsh, G. S. (2017). Effect of static and dynamic muscle stretching as part of warm up procedures on knee joint proprioception and strength. Human Movement Science, 55(August), 189–195. https://doi.org/10.1016/j.humov.2017.08.014. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28841537