Dor muscular tardia não é bom indicador de resultado



Dor Muscular Tardia é bom indicador de que o treino foi bom?

Todos nós ficamos muito felizes com aquela sensação de dor muscular no dia seguinte a musculação ou outra atividade física. O pensamento é de que o treino foi bom e está dando resultados! Mas será que é verdade? O que a ciência fala sobre isso?
A dor muscular tardia (DMT) tem seu pico de 24h a 48h após o treino, é uma sensação de desconforto que ocorre principalmente nos tendões e vai ao longo da musculatura. O surgimento da DMT é principalmente associada com contrações excêntricas, onde a musculatura está alongando porém resistindo a uma carga, por exemplo a fase de descida no agachamento(1,2).
Os mecanismos que geram a dor muscular tardia são ainda controversos, e dentre as principais teorias pode-se citar: Acúmulo do ácido lático; Espasmos musculares; microtraumas musculares; lesão no tecido conectivo; inflamação; eletrólitos e influxo de enzimas, é um consenso que apenas um fenômeno é insuficiente para explicar o processo, mas sim uma junção destes fatores (3)
Mas, de onde surgiu essa história de que dor muscular tardia é um ótimo indicador? Principalmente pelo fato do Dano Muscular (as conhecidas micro-lesões), ser um fator determinante (ou nem tanto) no desenvolvimento muscular (3–5).

Como assim nem tanto?!

Brad Schoenfeld, lançou uma revisão em 2012 sobre o dano muscular e seu papel na hipertrofia muscular, publicado no “The Journal of Strength and Conditioning Research”, onde o dano muscular é primeiramente resposta de exercícios diferentes dos habituais, ou quando são muito adaptados quanto ao tipo, intensidade ou duração, sendo potencializado na fase excêntrica, devido ao stress mecânico aumentando gerado nas fibras musculares. Porém podendo ocorrer a hipertrofia muscular em relativa ausência de dano muscular, assim como não ocorrer aumento da massa muscular e muito dano muscular, como ao final de provas de resistência como maratona. Não podendo afirmar que existe relação direta entre dano muscular e hipertrofia, onde estas interrelações são muito mais complexas envolvendo outros fatores (6).

OK OK OK MUITO BLÁ BLÁ BLÁ, ME DIGA, DOR MUSCULAR É BOM OU NÃO?

Se levar em consideração que o dano muscular é um fator diretamente proporcional ao desenvolvimento muscular, e que a dor muscular é oriunda dela. Os estudos divergem em relação a esta associação de dor muscular tardia com marcadores de dano muscular (nível de creatina quinase, presença de células satélites, nível de força isométrica após o exercício entre outros). Sendo essa associação maior em pessoas inexperientes no exercício, porém não se correlacionando bem à longo prazo, onde alguns marcadores continuam alto e a dor muscular tardia já diminuiu (7–16).
Segundo Damas e colaboradores (2015) a dor muscular tardia, é associada à inflamação da matriz extra-celular e não das miofibrilas (responsáveis pela contração muscular) (13). Porém o dano muscular é melhor indicado pela diminuição da função muscular, como por exemplo testes de 1 repetição máxima (4,12).
Mizuri e Taguchi postularam a teoria mais moderna, dizendo que a dor muscular tardia, tem relação a regulação de duas principais proteínas estimuladas pelo exercício a NGF (Nerve Growth Factor) e a GNDF (Glial cell-derived neurotrophic factor), sendo melhores reguladas conforme a frequência de execução dos exercícios, estimulando com o tempo menos os nervos nociceptores (responsáveis pela dor) (17).
Além destes aspectos a dor muscular tardia pode ser ruim, onde segundo Cheung e colaboradores (2003) em uma revisão referência sobre dor muscular, a DMT pode ser um fator de risco relacionados a lesão, podendo acarretar problemas de percepção e coordenação de movimentos, alterações biomecânicas nas articulações, diminuição na força e potência e alteração no padrão recrutamento de fibras (18).

Aplicações Práticas

Não há uma relação comprovada, entre a dor muscular e o desenvolvimento muscular, não devendo este ser um parâmetro para a qualidade do treino, de maneira geral, quer dizer apenas que ocorreram exercícios que você estava desacostumado, principalmente na fase excêntrica (19). Ou simplesmente você tem uma genética para ter mais dor muscular (20,21). Ou seja, fique tranquilo se o seu treino não gerou dor muscular, os ganhos estão ocorrendo da mesma maneira! (4–7,10,15,22).

Fontes

1. Vanshika sethi. Literature review of Management of Delayed onset muscle soreness ( DOMS ). Int J Biol Med Res. 2012;3(1):1469–75.
2. Cheung K, Hume PA, Maxwell L. Delayed Onset Muscle Soreness: Treatment Strategies and Performance Factors. Sport Med. 2003;33(2):145–64.
3. Lewis PB, Ruby D, Bush-Joseph C a. Muscle Soreness and Delayed-Onset Muscle Soreness. Clin Sports Med [Internet]. 2012;31(2):255–62. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.csm.2011.09.009
4. Schoenfeld BJ, Contreras B. Is postexercise muscle soreness a valid indicator of muscular adaptations? Strength Cond J. 2013;35(5):16–21.
5. Foschini D, Entre R, Físico E, Dor DME. RELAÇÃO ENTRE EXERCÍCIO FÍSICO, DANO MUSCULAR E DOR MUSCULAR DE INÍCIO TARDIO. Rev Bras Cineantropometria E Desempenho Hum. 2007;9(1):101–6.
6. Schoenfeld BJ. Does exercise-induced muscle damage play a role in skeletal muscle hypertrophy? J Strenght Cond Res. 2012;26(5):1441–53.
7. Marshall PWM, Cross R, Haynes M. The fatigue of a full body resistance exercise session in trained men. J Sci Med Sport [Internet]. 2017;21(4):422–6. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.jsams.2017.06.020
8. Coratella G, Schena F. Muscle damage and repeated bout effect induced by enhanced-eccentric squat exercise. J Sports Med Phys Fitness. 2016;56(12):1540–6.
9. Barroso R, Roschel H, Gil S, Ugrinowitsch C. Effect of the Number and the Intensity of Eccentric Muscle Actions on Muscle Damage Markers. Rev Bras Med do Esporte. 2011;17(November):397–400.
10. Carvalho TB, Crisp AH, Lopes CR, Crepaldi MD, Calixto RD, Pereira AA, et al. Effect of eccentric velocity on muscle damage markers after bench press exercise in resistance-trained men. Gazz Medica Ital Arch per le Sci Mediche. 2015;174(3):105–11.
11. Barroso R, Roschel H, Gil S, Ugrinowitsch C, Tricoli V. Effect of the Number and the Intensity of Eccentric Muscle Actions on Muscle Damage Markers. Rev Bras Med do Esporte. 2011;17(6):401–4.
12. Nosaka K, Newton M, Sacco P. Delayed-onset muscle soreness does not reflect the magnitude of eccentric exercise-induced muscle damage. Scand J Med \& Sci Sport. 2002;12(6):337–46.
13. Damas F, Nosaka K, Libardi CA, Chen TC, Ugrinowitsch C. Susceptibility to Exercise-Induced Muscle Damage: A Cluster Analysis with a Large Sample. Int J Sports Med. 2015;37(8).
14. Sikorski EM, Wilson JM, Lowery RP, Joy JM, Laurent MC, Wilson SM-C, et al. Changes in Perceived Recovery Status Scale Following High-Volume Muscle Damaging Resistance Exercise. J Strenght Cond Res. 2013;27(8):2079–85.
15. Peake JM, Neubauer O, Della Gatta PA, Nosaka K. Muscle damage and inflammation during recovery from exercise. J Appl Physiol [Internet]. 2017;122(3):559–70. Available from: http://jap.physiology.org/…/doi/10.…/japplphysiol.00971.2016
16. Flann KL, LaStayo PC, McClain DA, Hazel M, Lindstedt SL. Muscle damage and muscle remodeling: no pain, no gain? J Exp Biol [Internet]. 2011;214(4):674–9. Available from: http://jeb.biologists.org/cgi/doi/10.1242/jeb.050112
17. Xanthos, Paul D.Lythgo, NoelGordon, Brett A.Benson AC. The effect of whole-body vibration as a recovery technique on running kinematics and jumping performance following eccentric exercise to induce delayed-onset muscle soreness. Sport Technol Aug2013. 2013;6(3).
18. Cheung K, Hume PA, Maxwell L. Delayed onset muscle soreness : Treatment strategies and performance factors Treatment Strategies and Performance Factors. 2015;(September).
19. Vanshika sethi. Literature review of Management of Delayed onset muscle soreness ( DOMS ). 2012;3(1):1469–75.
20. Baumert P, Lake MJ, Stewart CE, Drust B, Erskine RM. Genetic variation and exercise-induced muscle damage: implications for athletic performance, injury and ageing. Vol. 116, European Journal of Applied Physiology. Springer Berlin Heidelberg; 2016. 1595-1625 p.
21. Baumert P, G-REX Consortium, G-R, Lake MJ, Drust B, Stewart CE, Erskine RM. TRIM63 (MuRF-1) gene polymorphism is associated with biomarkers of exercise-induced muscle damage. Physiol Genomics [Internet]. 2018;50(3):142–3. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/…/www.pubme…/articlerender.fcgi…
22. Mizumura K, Taguchi T. Delayed onset muscle soreness: Involvement of neurotrophic factors. J Physiol Sci. 2016;66(1):43–52.

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