Já imaginou realizar alguma atividade física por 61 horas seguidas?! Este é um daqueles artigos antigos, com uma metodologia muito intrigante.
O professor P. M. Lund em 1985, publicou uma pesquisa na British Journal Sports Medicine, avaliando o efeito de exercício físico prolongado através do voleibol (1).
Metodologia
O estudo constitiu de 12 atletas masculinos de uma equipe dinamarqueza de voleibol (19 a 28 anos), onde eram permitidos dois tempos de 30 segundos por equipe no set, além de 5 minutos por hora para comer, beber água e ir ao banheiro. No dia seguinte eles responderam questões sobre percepções físicas e psicológicas, além de exames médicos gerais, o que foi repetido uma e cinco semanas após.
Resultados
Durante a partida vários distúrbios físicos e psicológicos ocorreram. Onde 11 jogadores tiveram alucinações e delírios de curta duração, os atletas acharam jogar em dois lugares diferentes, o que pode ter ocorrido pela “diferença” no ambiente de dia e de noite, o 12º atleta também teve essa percepção, porém ele acreditou ser um delírio. Juntamente com essas alucinações, alguns jogadores percebiam a bola como um objeto diferente, como uma cabeça de peixe morto, panela de barro , uma casinha de verão, chamariz etc. Dois jogadores apresentaram paranoia (pensamento delirante crônico), um achou que os outros jogadores estavam tentando mata-lo e outro via um relógio na parede como um olho mágico que o vigiava. Após estes fatos, o jogo foi interrompido com 61 horas e 23 minutos de duração.
No dia seguinte 11 dos jogadores estavam condições psicológicas normais, porém um estava claramente depressivo sem um motivo relatado e com uma tendência a chorar, tendo dificuldades de dormir na noite após o jogo. No outro dia ele já estava em estado psicológico normal.
Todos os avaliados reclamaram de fatores relacionados à fadiga como dificuldade de raciocínio, dificuldade de concentração e dores de cabeça leves, estes sintomas se manteram por 3-4 dias. Uma semana após o jogo os 12 jogadores se sentiam menos condicionados fisicamente que no treino usual, ao final de cinco semanas, apenas dois atletas relataram ainda não ter atingido a forma física que possuiam antes.
Os exames físicos reveleram dados normais para o sistema respiratório, cardiovascular e digestivo. Dois avaliados tiveram um tremor leve nas mãos após o teste, e dois tiveram proteínas encontradas na amostra urinária, sintomas que desapareceram no teste realizado uma semana após. 5 jogadores mostraram não ter alteração no peso no dia seguinte ao jogo, um retomou o peso normal após uma semana e três após 5 semanas, cinco semanas depois, 3 jogadores ainda não tinham recuperado o peso perdido.
Quanto ao sistema locomotor ocorreram lesões devido ao esforço, principalmente nas pernas e pé (tendinite entre outras), no dia seguinte ao jogo foram encontradas 29 lesões no total, uma semana após 26 lesões e 5 semanas após restaram ainda 9 lesões.
Conclusões
O autor concluiu que os sintomas psicológicos ocorreram devido a privação de sono, o que foi um fator que limitou a continuação da prática, onde os sintomas mais graves desapareceram após uma noite de sono e os menos graves após 3 ou 4 dias. As lesões físicas foram menores e reversiveis(1).
A privação de sono, pode ainda aumentar o risco de infarto, obesidade, diabetes, deficits cognitivos, depressão, ansiedade, osteoporose, câncer, mortalidade entre outros (2). Dormir mal, pode afetar também a performance esportiva, principalmente em tarefas com elevadas demandas cognitivas, como tarefas de precisão, raciocínio e tomada de decisão (3).
E você? Qual o tempo máximo que ficou praticando alguma atividade física? Teve algum sintoma ou coisa do tipo? Comenta aí!
Fontes
1. Lund PM. Volleyball: changes after 61 hours play p. m. lund, md. Br J Sports Med. 1985;19(4):228–9.
2. Abrams RM. Sleep Deprivation. Obstet Gynecol Clin North Am [Internet]. 2015;42(3):493–506. Available from:http://dx.doi.org/10.1016/j.ogc.2015.05.013
3. Fullagar HHK, Skorski S, Duffield R, Hammes D, Coutts AJ, Meyer T. Sleep and Athletic Performance: The Effects of Sleep Loss on Exercise Performance, and Physiological and Cognitive Responses to Exercise. Sport Med. 2015;45(2):161–86.