Crossfit causa Rabdomiólise?



Será que o Crossfit causa Rabdomiólise? Vejamos, sem senso comum, o que a ciência nos diz.
Exercícios associados com a Rabdomiólise são tipicamente excessivos, extenuantes e/ou repetitivos, usualmente de natureza excêntrica e realizado em intensidades não acostumadas pelo indivíduo(5). Devido isso ela foi associada dentre os danos potenciais que poderiam ser causados no Crossfit (6). Outros fatores associados são: desidratação, temperatura elevada, anemia falciforme, o uso de drogas, suplementos alimentares e treinamento de alta demanda física, geralmente realizados por cadetes em profissões militares (2).

O que é Rabdomiólise?

A Rabdomiólise é caracterizada por necrose muscular, ou pelo resultado de lesão no tecido muscular induzido pelo exercício(1). Quando ocorre pelo exercício ela é denominada rabdomiólise induzida pelo esforço (RE) (2). A lesão no tecido resulta na libera¬ção para a circulação sanguínea de constituintes do músculo, entre eles a mioglobina, creatina-quinase e outros conteúdos celulares(2,3), que podem levar a uma insuficiência renal (4).

Os estudos sobre o assunto

Em um estudo de revisão foi encontrado apenas uma pesquisa com relatos de rabdomiólise no Crossfit (7). Nesta pesquisa foi relatado que o exercício resistido de alta intensidade teria potencial de lesão maior do que atividades como maratona ou treinamento militarizado. Dentre os casos clínicos, as atividades relatadas eram de alta intensidade porém nem todos relacionados ao Crossfit (8). Com isso, não se pode dizer que a modalidade em si é a vilã, já que a RE não é uma condição exclusiva do Crossfit, pois outras modalidades realizadas de forma extenuante, podem também causa-la (7), podendo ser comum em maratonas, por exemplo (9). A condição usualmente ocorre devido a prescrição de exercício inadequada ou a execução sem a adequada supervisão (10).
Drum et. al (2016) comparou a disfunção física entre protocolo de Crossfit e um protocolo baseado em diretrizes da ACSM* e encontrou que tanto a PSE*, quanto o número de dias de treinamento mais intensos foram maiores no protocolo Crossfit, levando a ocorrer maiores níveis de Dor Muscular Tardia nos indivíduos. Pesquisadores também encontraram que o uso de certos medicamentos, como aspirinas, estatinas, fenotiazinas e agentes anticolinérgicos, assim como suplementação e esteroides anabólicos podem predispor o indivíduo a RE (5,11). Poderia então a associação do exercício extenuante, mais o abuso de medicamentos/drogas, estar ligada ao desenvolvimento da condição. E como bem sabemos, a utilização de algumas drogas e anabolizantes para a melhora do rendimento e da estética, está cada vez mais abusiva no mundo “Fitness”, assim como em qualquer esporte.

Algumas recomendações

Recomenda-se então que indivíduos destreinados, novos no Crossfit (ou programas com mesma fundamentação), realizem treinos com baixo número de repetições, pouca carga, técnica adequada, e movimentos controlados para minimizar o risco de disfunção física severa pós exercício. Tanto a progressão como a recuperação adequada devem ser levadas em conta. (2).

Concluindo

Portanto parece que as evidências indicam que programas de alta intensidade, incluído o Crossfit, possuem potencial igual ou menor para lesões (Leia mais sobre taxa de lesões no Crossfit) do que várias atividades de treinamento físico tradicionais, enquanto resultando em ganhos similares ou melhores sobre o condicionamento físico geral (9) e que a prescrição adequada é o principal fator para se evitar condições como a rabdomiólise (10). O conhecimento das causas é de suma importância na hora de se avaliar as modalidades que são escolhidas como forma de atividade física, já que todas possuem riscos parecidos, o importante é saber como dosar.
*ACSM: American College of Sports Medicine (Colégio Americano de Medicina do Esporte) *PSE: Percepção Subjetiva do Esforço

Fontes

1. Schoenfeld BJ, Contreras B, Zealand N. Is Postexercise Muscle Soreness a Valid Indicator of Muscular Adaptations ? 2013;35(5):16–21.
2. Drum SN, Bellovary B, Jensen R, Moore M, Donath L. Perceived demands and post-exercise physical dysfunction in crossfit® compared to an acsm based training session. J Sports Med Phys Fitness [Internet]. 2016;57(August):1–6. Available at:http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26954573
3. Moniz MS, Mascarenhas MI, Escobar C, Nunes P, Abadesso C, Loureiro H, et al. Rabdomiólise como manifestação de uma doença metabólica: Relato de caso. Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(1):111–4.
4. Kim J, Lee J, Kim S, Young H, Suk K. Exercise-induced rhabdomyolysis mechanisms and prevention : A literature review. J Sport Heal Sci [Internet]. 2016;5(3):324–33. Available at: http://dx.doi.org/10.1016/j.jshs.2015.01.012
5. O’Connor F, Brennan F, Campbell W, Heled Y, Deuster P. Return to Physical Activity After Exertional Rhabdomyolysis. Curr Sports Med Rep. 2008;7(6):328–31.
6. Hak PT, Hodzovic E, Hickey B. The nature and prevalence of injury during CrossFit training. J Strength Cond Res [Internet]. 2013;1. Available at:http://insights.ovid.com/crossref…
7. Dominski FH, Siqueira TC, Serafim TT, Andrade A. Perfil de lesões em praticantes de CrossFit: revisão sistemática. Fisioter e Pesqui [Internet]. 2018;25(2):229–39. Available at: http://www.scielo.br/scielo.php…
8. Huynh A, Leong K, Jones N, Crump N, Russell D, Anderson M, et al. Outcomes of exertional rhabdomyolysis following high-intensity resistance training. Intern Med J. 2016;46(5):602–8.
9. Poston WSC, Ph D, Haddock CK, Ph D, Heinrich KM, Ph D, et al. Is High Intensity Functional Training (HIFT)/CrossFit® Safe for Military Fitness Training? Mil Med. 2017;181(7):627–37.
10. Rawson ES, Clarkson PM, Tarnopolsky MA. Perspectives on Exertional Rhabdomyolysis. Sport Med. 2017;47(s1):33–49.
11. Smoot MK, Amendola A, Cramer E, Doyle C, Kregel KC, Chiang H, et al. A Cluster of Exertional Rhabdomyolysis Affecting a Division I Football Team. Clin J Sport Med. 2013;23(5):365–72.

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