COVID-19 e Exercício: Recomendações para o Retorno.



Com a flexibilização das regras referentes ao SARS-CoV-2, diversas academias, centros esportivos e clubes vem retomando as suas atividades. Além de dizer o que já é óbvio em relação aos cuidados com contaminação, existem alguns detalhes importantes na prática de esportes em tempos de pandemia que devem ser revistos e levados em consideração, pois não se atentar a eles pode ocasionar uma falsa sensação de segurança, levando a acreditar que estará seguro de ser contaminado pelo vírus. Com isso trazemos a vocês detalhes quanto aos tópicos abaixo, referentes ao COVID-19 e Exercício:

1. A utilização de máscaras

2. O distanciamento

3. O retorno ao treinamento após inatividade

Máscaras

Máscaras tem sido recomendadas, visto que foi mostrado que a não utilização aumenta a detecção de partículas do RNA do vírus no ar, enquanto quando ocorre a utilização de máscaras as partículas são praticamente indetectáveis (1), ou seja, se alguém está contaminado o uso de máscara auxilia com a redução da disseminação do vírus pelo ar. Porém durante o exercício ou atividade física há um aumento da taxa respiratória, ocorrendo o aumento da frequência respiratória, ou seja, do número de vezes em que há inspiração e expiração de gases. Devido esse aumento durante o exercício é esperado que as máscaras absorvam uma quantidade maior de umidade e ocorra a perda do seu efeito de proteção após 10-15 minutos de atividade (2,3).

Isso pode restringir o período do efeito protetivo e do número de máscaras que devem estar a disposição durante as atividades de treino. Além de que, as máscaras podem trazer uma falsa sensação de segurança se forem incorretamente utilizadas, não forem renovadas com a frequência adequada ou da transmissão de algum vírus para as mãos no momento da sua remoção. Outro ponto importante é que as máscaras causam grande desconforto durante a prática de atividade física, dificultando a respiração e em consequência reduzindo o desempenho da atividade. O tipo de material do qual a máscara foi produzida também pode influenciar.

Distanciamento

Outra regra importante destacada pelos autores dos estudos é a do distanciamento. De 1 a 2 metros de distância pode não ser suficiente para prevenir a infecção do SARS-CoV-2 durante o exercício. É recomendado que sejam adotadas distâncias maiores que 4,5 metros para caminhadas, maiores que 10 metros quando a atividade for corrida, e maiores que 20 metros quando a atividade for ciclismo, obviamente que atividades ao ar livre, onde ocorre maior deslocamento da massa de ar e assim consequentemente o deslocamento de partículas. Entretanto estes experimentos investigam apenas como a partículas de água viajam, sendo assim esses direcionamentos sobre o distanciamento ainda são prematuros, podendo ser que ocorra a necessidade de distancias maiores (4,5).

No caso da pratica de atividades aquáticas, regras especiais são necessárias. A desinfecção de piscinas com cloro tornam os vírus como o SARS-CoV inativo (6), porém outros cuidados são necessários pois a transmissão do vírus pode ocorrer no contato com as escadas e em beiras das piscinas, no vestiário, entre outros, já que o vírus pode sobreviver por mais tempo em diferentes tipos de superfícies (7). Da mesma forma que para atividade ou exercício físico indoor. Se levarmos em conta a utilização de uma academia, por exemplo, será necessário respeitar a distância mínima recomendada e a higienização dos equipamentos utilizados, pelos mesmos motivos citados acima, já que ocorre a manipulação por vários indivíduos.

Treinamento

Com o aumento da inatividade devido ao período de quarentena o retorno aos treinamentos deve ocorrer de forma gradual. A incidência de lesões e até mesmo de morte, relacionadas a hipertermia, rabdomiólise e falha cardiorrespiratória possuem um risco de ocorrência significantemente maior após longos períodos de inatividade se as cargas de treinamento e ou suas estratégias de recuperação não forem ajustadas para refletir no nível então reduzido de condicionamento dos atletas (8). Mesmo após o retorno é necessário ter cautela, pois um aumento muito abrupto da carga de treinamento, com intensidade e/ou volume muito alto, pode aumentar o risco de lesões (9). Além de que já mostramos aqui que exercício físico realizado com carga de treino muito alta, pode reduzir a imunidade e aumentar a chance de apresentar quadros de infecção.

A Associação Americana de Força e Condicionamento (National Association of Strength and Conditioning) junto a Associação Universitária de Treinadores de Força e Condicionamento (Collegiate Strength and Conditioning Coaches Association) recomenda que o retorno para as atividades de condicionamento deve seguir a regra 50/30/20/10, quando houver longo tempo de inatividade (8).

Do volume mais alto da carga de treinamento planejado para aquele programa, deve ocorrer uma redução de 50% para a primeira semana, 30% para a segunda semana, 20% para a terceira e 10% na última semana. Sendo que ainda, na primeira semana, a razão esforço:pausa (tempo de atividade para tempo de descanso) deve ser de 1:4 ou maior, na segunda semana podendo chegar a 1:3, por exemplo, se é planejado 10 segundos de atividade para 60 segundos de pausa a razão será 1:6.  Para atividades de força é recomendado seguir a mesma lógica, onde frequência, intensidade, volume e tempo de intervalo devem ser adequados pouco a pouco.

Considerações

Os cuidados para a não disseminação do vírus no retorno as atividades físicas e esportivas, seguem basicamente a mesma lógica já adotada. Importante ressaltar novamente que o uso de máscara é importante, porém cuidados extras devem ser tomados durante a realização de treinamentos ou exercício físico com ela, visto que apenas uma máscara pode não ser suficiente para a sessão de treino. A soma do uso de máscara mais o distanciamento ajuda a aumentar o fator protetivo da contaminação durante os treinos.

Considerando o retorno as atividades, o volume e intensidade de treinamento devem ser adequados aos níveis de condicionamento dos indivíduos. Como pode ser visto nos estudos, é necessário ter bom senso e levar em consideração o indivíduo em si, visto que existe um aumentado risco à saúde quando este é exposto a altas cargas de treinamento após longo período de inatividade.

Referências

1.          Leung NHL, Chu DKW, Shiu EYC, Chan KH, McDevitt JJ, Hau BJP, et al. Respiratory virus shedding in exhaled breath and efficacy of face masks. Nat Med [Internet]. 2020;

2.          Steinacker JM, Bloch W, Halle M, Mayer F, Meyer T, Hirschmüller A, et al. Fact sheet: Health situation for athletes in the current coronavirus pandemic (SARS-CoV-2 / COVID-19). Dtsch Z Sportmed. 2020;71(4):85–6.

3.          Wackerhage H, Everett R, Krüger K, Murgia M, Simon P, Gehlert S, et al. Sport , Exercise and COVID-19 , the Disease Caused by the SARS-CoV-2 Coronavirus. Ger J Sport Med. 2020;71(5):1–11.

4.          Blocken B, Malizia F, van Druenen T, Marchal T. Towards aerodynamically equivalent COVID19 1.5 m social distancing for walking and running. Urban Phys [Internet]. 2020;11.

5.          Blocken B, Malizia F, van Druenen T, Marchal T, Leuven K. Social Distancing v2.0: During Walking, Running and Cycling. 2020;1–3.

6.          Wang XW, Li JS, Jin M, Zhen B, Kong QX, Song N, et al. Study on the resistance of severe acute respiratory syndrome-associated coronavirus. J Virol Methods. 2005;126(1–2):171–7.

7.          Kampf G, Todt D, Pfaender S, Steinmann E. Persistence of coronaviruses on inanimate surfaces and their inactivation with biocidal agents. J Hosp Infect. 2020;104(3):246–51.

8.          Caterisano A, Decker D, Snyder B, Feigenbaum M, Glass R, House P, et al. CSCCa and NSCA joint consensus guidelines for transition periods: Safe return to training following inactivity. Strength Cond J. 2019;41(3):1–23.

9.          Bourdon PC, Cardinale M, Murray A, Gastin P, Kellmann M, Varley MC, et al. Monitoring Athlete Training Loads: Consensus Statement. Int J Sports Physiol Perform [Internet]. 2017;12(Suppl 2):S2161–70.

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