Diversos treinadores buscam a utilização de exercícios de ativação muscular para melhorar o desempenho dos seus clientes ou atletas durante os treinos, com a ideia de que, uma melhor ativação promoverá melhores resultados, devido ao que se chama de potencialização pós-ativação (PAP). Com essa premissa, pensando em melhorar o desempenho de saltos e sprints, utilizam-se protocolos de exercícios de aquecimento para melhorar a ativação muscular, sendo prescritos para que se obtenha melhor desempenho nestes movimentos. Porém estas “ativações” estão realmente melhorando o desempenho?
Protocolo de Ativação Muscular
HARRISON
e MCCABE (2017) resolveram examinar se um
protocolo de aquecimento consistindo de exercícios de ativação muscular do glúteo
com baixas cargas, causava um efeito de melhora do desempenho de forma aguda em
sprints e drop jumps (DJ)*, sendo a hipótese de que os exercícios causariam um efeito
de potencialização nos movimentos avaliados. No protocolo do estudo, foram
realizados exercícios, apenas com o peso corporal, como:
“Lateral and Forward Step Up” (Subida lateral e frontal na caixa)
“Wall Squat” (Agachamento na parede)
“Unilateral Bridge”(Ponte unilateral – Elevação de Quadril)
“Single Leg Deadlift” (Levantamento Terra Unilateral)
“Unilateral Mini Squat” (Mini Agachamento Unilateral)
“Clams”(Abdução de Quadril em Decúbito Lateral)
“Birddog”(Perdigueiro)
Comparados os dados pré e pós intervenção, foram verificadas inconsistências e
variabilidades individuais dos efeitos do protocolo no desempenho de sprints e
do DJ, sendo então sugerido que exercícios de ativação dos glúteos com baixa
carga são pouco prováveis em causar alterações positivas no desempenho de
atividades de sprints e saltos.
COCHRANE e colaboradores (2017) utilizaram protocolo similar em atletas de rugby durante 6 semanas, sendo também realizados exercícios de baixa carga, apenas com o peso corporal ou elásticos. Os resultados mostraram que não houveram interações ou mudanças significativas no desempenho do pico de força em contração isométrica voluntária máxima e na extensão unilateral do quadril, também não houveram melhoras da ativação muscular medida através de eletromiografia.
Mais carga, mais desempenho
Enquanto o PAP tem sido proposto como um mecanismo para melhorar o desempenho através de um protocolo de ativação muscular, parece que o peso corporal dos indivíduos poderia ser uma causa das respostas e inconsistências entre participantes, devido a carga corporal ser baixa para o processo do PAP. O que concorda com os achados de uma meta-análise sobre aquecimento e melhora do desempenho realizada por MCCRARY e colaboradores, (2015) , onde conclui que aquecimentos dinâmicos com carga alta melhoram o desempenho de força e potência muscular.
Portanto, nem todo protocolo de aquecimento pode melhorar o desempenho de forma aguda. A intensidade no exercício, aqui apresentada como o peso, parece ser determinante para que ocorram mudanças significativas nas melhoras de ativação muscular, conforme apresentado por estes estudos. Porém importante lembrar do valor do aquecimento
*PAP: Potencialização
Pós Ativação – Descreve uma força muscular aumentada em movimentos explosivos
que ocorre após a execução de um exercício resistido pesado, ex: Salto Vertical
apresenta melhora na altura após ter sido realizado previamente um meio
agachamento com cargas altas.
*DJ: Drop Jump – Salto em profundidade, realizado com o indivíduo saltando/caindo
de cima de uma caixa e no momento que ocorre contato com o solo outro salto é
realizado.
Referências
COCHRANE, Darryl J.; HARNETT, Michael C.; PINFOLD, Scott C. Does short-term gluteal activation enhance muscle performance? Research in Sports Medicine, v. 25, n. 2, p. 156–165, 2017.
HARRISON, Andrew J.; MCCABE, Ciaran. The effect of a gluteal activation protocol on sprint and drop jump performance. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, v. 57, n. 3, p. 179–188, 2017.
MCCRARY, J. Matt; ACKERMANN, Bronwen J.; HALAKI, Mark. A systematic review of the effects of upper body warm-up on performance and injury. British Journal of Sports Medicine, v. 49, n. 14, p. 935–942, 2015.
Olá Professor, essa linha de estudo foi para melhora dos exercícios depois de uma ativação com o peso onde não perceberam uma melhora com o PAP e o DJ.
Se esse estudo de ativação fosse para prevenção como se é utilizado no futebol qual seria a conclusão em base no seu conhecimento?
obrigado
Olá Antonio!
Existem vários estudos com a utilização de protocolos de exercício com o peso corporal com o objetivo de prevenção de lesões, o FIFA 11+ é um deles. Os resultados destes estudos é positivo, mostrando que o protocolo tem efeito protetivo. Como a intensidade dos exercícios é baixa, eles promovem ação de aquecimento, o que já é uma das principais razões para que ocorra uma redução nos riscos de lesão.
Agora com base no meu conhecimento e partindo da minha opinião, não coloco todas as cartas nestes protocolos. Outros fatores influenciam no aumento do risco de lesões, como aumentos muito rápidos na carga de treinamento, não permitir uma recuperação adequada, sono e alimentação.
Uma proposta para auxiliar nisso, é monitorar a carga de treino e estado dos atletas, para possíveis adequações dos treinamentos. A preparação física é grande aliada, mas deve ser equilibrada e monitorada junto do treinamento técnico-tático.
Espero ter ajudado! Forte Abraço!
Att. Gustavo
Sci Training