Você sabia que o exercício físico é um bom tratamento para o Diabetes? Aeróbico ou resistido? Qual será melhor? Saiba tudo sobre exercício físico para diabéticos.
O que é Diabetes Mellitus (DM)
Diabetes mellitus (DM) é um conjunto de doenças metabólicas que se caracterizam pela elevação nas concentrações de glicose sanguínea (ou seja, hiperglicemia). O acúmulo de glicose no sangue é resultado de anomalias na secreção de insulina e / ou a incapacidade de usar insulina (1). A insulina é responsável por promover a entrada da glicose nas células. Se o corpo não secreta a insulina ou é incapaz de usá-la, a glicose fica se acumulando no sangue, o que chamamos de hiperglicemia.
Os dados sobre Diabetes
Níveis elevados de glicose no sangue podem causar doenças microvasculares e macrovasculares, bem como neuropatias (periféricas e autonômicas) (1). Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde revela que em 2017, 7,6% dos habitantes das capitais brasileiras com mais de 18 anos, tinham diagnóstico de diabetes (2). Estima-se que nos EUA, 9,3% da população tem diabetes, com 28% não diagnosticado (3).
Tipos de Diabetes
Existem quatro tipos de diabetes: diabetes mellitus tipo 1 (DM1), diabetes mellitus tipo 2 (DM2), gestacional e outras origens específicas (isto é, defeitos genéticos e induzidos por drogas); no entanto, a maioria dos pacientes tem DM2 (90% dos casos) seguida de DM1 (5% a 10% dos casos) (4).
Diabetes Mellitus Tipo 1
O DM1 é ocasionado pela destruição autoimune das células β produtoras de insulina do pâncreas, ainda que alguns casos sejam de origem desconhecida (4). As principais características do DM1 são a deficiência quase integral de insulina e uma alta tendência para cetoacidose*.
Diabetes Mellitus Tipo 2
O DM2 é causado pela resistência à insulina no músculo esquelético, tecido adiposo e fígado, combinado com uma falha na secreção de insulina. Uma característica comum do DM2 é a obesidade abdominal ou central (4).
Pré-diabetes
A obesidade abdominal e a resistência à insulina podem progredir para pré-diabetes, que é caracterizada por intolerância à glicose e/ou elevação da glicose sanguínea em jejum. Indivíduos com pré-diabetes têm risco muito alto de desenvolver diabetes.
Valores de Glicemia plasmática em Jejum para diagnóstico de DM e pré-diabetes:
Classificação | Glicemia plasmática em Jejum |
Normal | < 100 mg/dℓ |
Pré-diabetes | 100 mg/dℓ a 126 mg/dℓ |
Diabetes Melito | ≥ 126 mg/dℓ |
Tipos de Tratamento
Para tratar o DM é necessário fazer o controle glicêmico usando dieta, exercícios e, em muitos casos, fármacos. O tratamento intensivo para controle da glicemia reduz o risco de progressão das complicações do diabetes em qualquer pessoa com essa condição (4). Portanto, é necessário recorrer ao auxilio profissional (médico, nutricionista, educador físico), antes de começar qualquer intervenção.
Benefícios da atividade física regular para diabetes
A atividade física (AF) pode ser benéfica para lidar com qualquer tipo de diabetes, auxiliando na prevenção de agravos da doença, diminuindo a resistência à insulina e o DM2. O exercício regular melhora a tolerância à glicose, aumenta da sensibilidade à insulina e diminui a hemoglobina glicosilada (usada como teste sanguíneo) em indivíduos com DM2 (5, 6). Além disso a atividade física pode diminuir fatores de risco de doença cardiovascular e melhorar o bem-estar em pacientes com DM1 e DM2 (7). Fazer exercício físico também pode evitar que o pré-diabetes transite para o DM2 (8).
Recomendações de exercício físico para diabéticos
Exercício Aeróbico
De acordo com o American College of Sports Medicine (ACSM), é recomendável 150 minutos semanais de exercícios de intensidade moderada, o que reduz a morbidade e a mortalidade em todas as populações, inclusive aqueles com DM (1, 9). Os 150 minutos podem ser divididos em 3 a 7 dias por semana, a intensidade recomendada é de moderada (40% a 59% VO2R) a vigorosa (60% a 89%VO2R).
Exercício Resistido
O ACSM também recomenda exercícios resistidos 2 dias semanais, não consecutivos, mas preferencialmente, 3 dias por semana, em intensidade moderada (50% a 69% de 1RM) a vigorosa (70% a 85% de 1RM) (1).
Combinação: Aeróbico e Resistido
Há alguma evidência de que uma combinação de exercício aeróbico e de resistência pode melhorar, ainda mais, o controle da glicemia do que apenas um dos métodos isoladamente (10-12), mas é necessário mais estudos neste sentido.
Diferenças entre Exercício Aeróbico e Resistido para o DM
Em uma revisão sistemática e meta-análise de 2014, não foram encontradas diferenças entre exercício resistido e aeróbico no impacto de marcadores de risco cardiovascular ou na segurança em indivíduos com DM2. Os dois tipos de exercício têm efeitos comparáveis no controle glicêmico (13). Sendo assim, pacientes com DM2 podem escolher entre uma corrida/caminhada ou musculação, por exemplo, levando em consideração suas limitações físicas, preferência pessoal ou até disponibilidade de instalações. Quanto mais viável for a prática de exercícios, maior a probabilidade de que seja retomada e mantida.
*Cetoacidose diabética: agravo caracterizado por altas taxas de glicose sanguínea, acidose metabólica, desidratação e cetose, quando há carência de insulina (14). O corpo não consegue usar a glicose e começa a utilizar os estoques de gordura para obtenção de gordura, resultando num processo que leva ao acúmulo de corpos cetônicos no sangue, o que torna o sangue mais ácido. Tal condição causa graves prejuízos ao organismo.
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Referências
1. American College of Sports Medicine, Deborah Riebe, Jonathan K. Ehrman, Gary Liguori, and Meir Magal. 2018. ACSM’s guidelines for exercise testing and prescription.
2. Vigitel Brasil 2017: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2017.
3. Centers for Disease Control and Prevention. National Diabetes Statistics Report, 2014 [Internet]. Atlanta (GA): U.S. Department of Health and Human Services; [cited 2014 Jan 14]. Available from: http://www.cdc.gov/diabetes/pubs/statsreport14/national-diabetes-report-web.pdf
4. American Diabetes Association. Section 2: classification and diagnosis of diabetes. Diabetes Care. 2015;38(1 Suppl):S8–16.
5. Snowling NJ, Hopkins WG. Effects of different modes of exercise training on glucose control and risk factors for complications in type 2 diabetic patients: a meta-analysis. Diabetes Care. 2006;29(11):2518–27.
6. Umpierre D, Ribeiro PA, Kramer CK, et al. Physical activity advice only or structured exercise training and association with HbA1c levels in type 2 diabetes: a systematic review and meta-analysis. JAMA. 2011;305(17):1790–9.
7. Colberg SR, Albright AL, Blissmer BJ, et al. Exercise and type 2 diabetes: American College of Sports Medicine and the American Diabetes Association: joint position statement. Exercise and type 2 diabetes. Med Sci Sports Exerc. 2010;42(12):2282–303.
8. Knowler WC, Barrett-Connor E, Fowler SE, et al. Reduction in the incidence of type 2 diabetes with lifestyle intervention or metformin. N Engl J Med. 2002;346(6):393–403.
9. Physical Activity Guidelines Advisory Committee. Physical Activity Guidelines Advisory Committee Report, 2008 [Internet]. Washington (DC): U.S. Department of Health and Human Services; [cited 2016 Jan 18]. 683 p. Available from: http://www.health.gov/paguidelines/Report/pdf/CommitteeReport.pdf
10. Church TS, Blair SN, Cocreham S, et al. Effects of aerobic and resistance training on hemoglobin A1c levels in patients with type 2 diabetes: a randomized controlled trial. JAMA. 2010;304(20):2253–62.
11. D’hooge R, Hellinckx T, Van Laethem C, et al. Influence of combined aerobic and resistance training on metabolic control, cardiovascular fitness and quality of life in adolescents with type 1 diabetes: a randomized controlled trial. Clin Rehabil. 2011;25(4):349–59.
12. Sigal RJ, Kenny GP, Boulé NG, et al. Effects of aerobic training, resistance training, or both on glycemic control in type 2 diabetes: a randomized trial. Ann Intern Med. 2007;147(6):357–69.
13. Yang Z, Scott CA, Mao C, Tang J, Farmer AJ. Resistance exercise versus aerobic exercise for type 2 diabetes: a systematic review and meta-analysis. Sports Med. 2014;44(4):487–99.
14. Barone, Bianca, Rodacki, Melanie, Cenci, Maria Claudia Peixoto, Zajdenverg, Lenita, Milech, Adolpho, & Oliveira, José Egidio P. de. (2007). Cetoacidose diabética em adultos: atualização de uma complicação antiga. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, 51(9), 1434-1447. https://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302007000900005