Estresse Mental e Obesidade



Como visto em uma das nossas matérias anteriores, o estresse é algo que faz parte do nosso cotidiano e afeta nossa saúde física e mental. Pessoas que praticam atividade física e possuem uma alimentação regular podem vir a desencadear, através do estresse mental, comportamentos que possam contribuir com o aumento de gordura corporal, e podendo levar a obesidade se o cenário for agravado. Mas qual a relação do estresse mental com o desenvolvimento da obesidade?

Fita métrica aferindo circunferência abdominal

Fatores Estressores

Existem várias razões para o desenvolvimento da obesidade, como por exemplo, o excesso de alimentação, a falta de atividade física e exercício, mas o mais importante é a associação com a escolha do alimento do indivíduo, que é fortemente dependente em como estes indivíduos são influenciados pela exposição diária ao estresse (TORRES; NOWSON, 2007). Assim, indivíduos que sofrem de estresse por maiores períodos de tempo, acabam ingerindo mais alimentos não saudáveis, levando ao desenvolvimento da obesidade e de outros problemas de saúde (ADAM; EPEL, 2007; TORRES; NOWSON, 2007).

Os estressores psicossociais mais comuns incluem baixo nível socioeconômico, conflitos pessoais com amigos e família, ambientes de trabalho estressantes, falta de suporte social adequado, baixa autoestima, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ou cuidar de um ente querido doente (MCEWEN; GIANAROS, 2010). Devido estes serem fatores de estresse do tipo crônico, eles contribuem para o aumento de peso e adiposidade visceral (SCOTT e colab., 2012).

Cortisol e Sistema de Recompensa

Um dos principais fatores que relacionam o estresse com o aumento da gordura corporal e obesidade é a liberação do Cortisol, o hormônio do estresse. O cortisol é conhecido por causar uma redistribuição do tecido adiposo na região abdominal e em adição aumentar o apetite com preferência por alimentos mais densos em energia, ou seja, aqueles que possuem uma maior concentração calórica, também chamados de “Comfort Food” (VAN DER VALK e colab., 2018).

Isso ocorre devido ao cortisol ativar o chamado sistema de recompensa, podendo influenciar o valor da recompensa dos alimentos por meio de mediadores neuroendócrinos / peptídicos, como leptina, insulina e neuropeptídeo Y (NPY). Com isso, enquanto os glicocorticóides são antagonizados agudamente pela insulina e leptina, sob estresse crônico, esse sistema finamente equilibrado é desregulado, possivelmente contribuindo para o aumento da ingestão alimentar e acúmulo de gordura visceral (ADAM; EPEL, 2007).

Abaixo veja a figura com o modelo teórico do sistema de recompensa:

A) Resposta a um fator de estresse; B) Aumento do cortisol em relação a essa resposta; C) Aumento da Insulina, Leptina e NPY em resposta ao cortisol, e também ocorre restrição cognitiva (onde não se consegue consegue controlar o impulso da ingestão); D) Isso gera a ativação do sistema de recompensa; E) O indivíduo ingere alimentos com alta densidade calórica; e F) Como consequência, isso vai gerando um maior acúmulo de gordura visceral.
Adaptado de ADAM; EPEL, 2007

Conclusões

Podemos ver que fatores que causam estresse no nosso cotidiano, já são suficientes para que ocorra um aumento da gordura visceral. O grande problema de tudo isso é que estresse e obesidade apresentam um ciclo vicioso, onde o estresse gera obesidade, o que gera mais estresse, e assim por diante (TOMIYAMA, 2018). Portanto é necessário que estratégias não só para o tratamento da obesidade sejam tomadas, assim também sendo necessário reavaliar os fatores estressores do nosso dia-a-dia que possam estar piorando a situação. A prática de atividade física por si só já é de grande ajuda para a redução do estresse psicológico e mental, mas muitas vezes pode ser necessário o acompanhamento psicológico com um profissional qualificado para que ajude nesse processo de reeducação.

Referências

ADAM, Tanja C.; EPEL, Elissa S. Stress, eating and the reward system. Physiology and Behavior, v. 91, n. 4, p. 449–458, 2007.

MCEWEN, Bruce S.; GIANAROS, Peter J. Central role of the brain in stress and adaptation: Links to socioeconomic status, health, and disease. Annals of the New York Academy of Sciences, p. 190–222, 2010.

SCOTT, Karen A.; MELHORN, Susan J.; SAKAI, Randall R. Effects of Chronic Social Stress on Obesity. Current Obesity Reports, v. 1, n. 1, p. 16–25, 2012.

TOMIYAMA, A Janet. Stress and Obesity. Annu. Rev. Psychol. 2019, v. 70, n. June 2018, p. 5–6, 2018.

TORRES, Susan J.; NOWSON, Caryl A. Relationship between stress, eating behavior, and obesity. Nutrition, v. 23, n. 11–12, p. 887–894, 2007.

VAN DER VALK, Eline S.; SAVAS, Mesut; VAN ROSSUM, Elisabeth F.C. Stress and Obesity: Are There More Susceptible Individuals? Current obesity reports, v. 7, n. 2, p. 193–203, 2018.

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