10 coisas que um técnico esportivo NÃO DEVE fazer – Parte 2



Esse é a nossa segunda postagem sobre 10 coisas que os técnicos não devem fazer. Se você perdeu a primeira postagem, confira clicando AQUI.

Na matéria de hoje abordamos a importância da criatividade e variabilidade na técnica do gesto motor e como o planejamento de treino é um papel fundamental no desenvolvimento de um programa esportivo.

Querer impor exatamente o mesmo movimento para todos os atletas

Cada atleta é diferente. Querer que todos executem um movimento exatamente da mesma maneira é uma utopia, ao treinar massivamente uma única técnica, isso pode limitar a capacidade criativa do atleta (1) (Veja nossa matéria sobre variabilidade clicando AQUI).

Não há problema em desenvolver uma técnica específica, o problema está em desenvolver APENAS está técnica sem ou com pouca variação. É fundamental fornecer exercícios/dificuldades que façam com que o atleta busque variadas soluções, executando diferentes movimentos, com diferentes velocidades, ângulos, tomadas de decisão etc. (2).

Ao observamos o esporte de alto rendimento talvez o que mais chame a atenção é a criatividade e variabilidade que os atletas demonstram, tomando decisões rápidas e criativas, além de gestos motores eficientes pra solucionar os problemas do jogo, como o movimento da “bicicleta” no futebol. Muito provavelmente se os treinadores oferecerem condições de treino que faça com que os atletas busquem diferentes movimentos soluções, estes irão alcançar essa performance encontrada no alto nível, mais facilmente (3).

A dica prática é que sejam inseridas variações na técnica, tudo bem treinar uma técnica preferida, mas sugerir aos atletas variações é ainda melhor. E se possível, dando autonomia aos atletas, por exemplo pedindo aos atletas pra fazer o movimento diferente, e os guiando durante a tarefa, por exemplo “Agora crie uma técnica diferente” “agora aplique uma técnica que usa mais as pernas”, “tente acertar o alvo de três maneiras diferentes” e assim por diante. Todas as vezes que essa autonomia é dada aos atletas a aprendizagem é muito mais eficiente e mais rápida (4–6), uma vez que o treino deveria ser CENTRADO no atleta, e o técnico deve ser apenas o guia, o levando a explorar as diversas possibilidades do movimento (7).  

Não planejar o treino

O treinamento é arte! É um processo complexo, porém, sem planejamento ele pode se tornar CONFUSO e ainda mais complicado, como tentar acertar um alvo no escuro. Um dos métodos mais conhecidos para o planejamento do treino é a periodização (Também já escrevemos sobre isso, de uma olhada clicando AQUI), onde levando em consideração as competições controla-se as cargas e a intensidade do treinamento, apesar de ser um método por vezes criticado, pode ter boa aplicação, principalmente em esportes individuais (8).

Independente do método, a ideia geral é que o técnico tenha em mente e no papel os objetivos à serem alcançandos e como proceder para que isso aconteça. Além de planejar, o técnico deve adaptar o planejamento conforme os treinos vão ocorrendo, até porque o desenvolvimento do atleta ou equipe é imprevisível (9). Cada treino deverá ser planejado, com claros objetivos, exercícios, possíveis variações, além de planejar as competições de acordo com o calendário esportivo. De maneira geral, quanto mais próximo da competiçõe os treinos deverão ser totalmente específicos a modalidade esportiva e a carga deve ser controlada de maneira que os atletas se recuperem e estejam 100% durante a competições (10).

O planejamento do treino deve ser multifatorial e pode ser dividido em 5 grandes componentes (11):

Cargas fisiologicas do treinamento

Este componente tem relação à como as sessões de treinos são estruturadas em relação as demandas energéticas, como por exemplo treino predominantemente aeróbio, anaeróbio, intervalado e assim por diante. Conforme cada período e modalidade a ênfase é dada diferentemente para determinadas zonas energéticas.

Recuperação

O tipo de recuperação pode variar durante os períodos de treinamento, estratégias como imersão em água fria podem ser adotadas ou evitadas. Recuperação ativa dentre outros métodos devem ser considerados no momento do planejamento, sendo que existem métodos mais e menos eficientes em diferentes situações (Já escrevemos sobre isso, dê uma olhada clicando AQUI).

Nutrição

Todos sabem o papel da nutrição na performance, e este componente também deve ser planejado, onde o nutricionista deve saber em que fase o atleta está para montar uma dieta adequada.

Psicologia

As abordagens visando a melhora dos componentes psicológicos do esporte também devem variar conforme período, modalidade, personalidade do atleta entre outros. Fatores como motivação, dor, gerenciamento do stress, estabelecimento de objetivos, entres outros fatores devem ser planejados adequadamente para que a performance seja maximizada.

Técnica

Em esportes de predominância técnica esse componente é fundamental e naturalmente deve ser planejado, onde em determinados períodos o objetivo será ensinar uma nova técnica, variar alguma padrão motor, ou então aplicar em situações reais de jogo entre outros. Deve ser levado em consideração número de repetições e métodos para a melhora da técnica.

E assim encerramos mais uma postagem da nossa série, fique ligado pra não perder as próximas, ainda temos mais 6 coisas que os técnicos esportivos NÃO DEVEM FAZER.

E lembre, não deixe ninguém te enganar.

Referências

1.          Santos S, Coutinho D, Gonçalves B, Schöllhorn W, Sampaio J, Leite N. Differential Learning as a Key Training Approach to Improve Creative and Tactical Behavior in Soccer. Res Q Exerc Sport [Internet]. 2018;89(1):11–24. Available from: https://doi.org/10.1080/02701367.2017.1412063

2.          Schmidt RA, Lee TD, Winstein CJ, Wulf G, Zelasznik HN. Motor Control and Learning. 6th ed. Human Kinetics; 2019. 532 p.

3.          Orth D, van der Kamp GJP, Memmert D, Savelsbergh GJP. Creative motor actions as emerging from movement variability. Front Psychol. 2017;8(OCT):1–8.

4.          Lewthwaite R, Wulf G. Optimizing motivation and attention for motor performance and learning. Curr Opin Psychol [Internet]. 2017;16(March):38–42. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.copsyc.2017.04.005

5.          Wulf G, Lewthwaite R, Cardozo P, Chiviacowsky S. Triple play: Additive contributions of enhanced expectancies, autonomy support, and external attentional focus to motor learning. Q J Exp Psychol. 2017;(January):1–9.

6.          Gillet N, Vallerand RJ, Amoura S, Baldes B. Influence of coaches’ autonomy support on athletes’ motivation and sport performance: A test of the hierarchical model of intrinsic and extrinsic motivation. Psychol Sport Exerc [Internet]. 2010 Mar [cited 2012 Apr 21];11(2):155–61. Available from: http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1469029209001186

7.          Davids K, Araújo D, Vilar L, Renshaw I, Pinder R. An Ecological Dynamics Approach to Skill Acquisition: Implications for Development of Talent in Sport Theoretical Principles of Ecological Dynamics. Talent Dev Excell. 2013;5(1):21–34.

8.          Arruda D, Api G. Reflexões sobre a periodização esportiva na atualidade. Universidade Paulista; 2018.

9.          Afonso J, Sousa P, Mesquita I. Is Empirical Research on Periodization Trustworthy ? A Comprehensive Review of Conceptual and Methodological Issues. J Sport Sci Med. 2017;16(March):27–34.

10.        Turner A. The Science and Practice of Periodization: A Brief Review. Strength Cond J. 2011;33(1):34–46.

11.        Mujika I, Halson S, Burke LM, Balagué G, Farrow D. An Integrated , Multifactorial Approach to Periodization for Optimal Performance in Individual and Team Sports. Int J Sports Physiol Perform. 2018;13:538–61.

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